(Foto: Reprodução) Numa sociedade que nos sobrecarrega continuamente com informação, o 'estado de vigilância' vem consumindo as pessoas, diz psicóloga. Encerro a série de colunas sobre os destaques do seminário “Healthy Aging 2025”, realizado pela Universidade Stanford, com a palestra de uma das maiores referências sobre estresse, a psicóloga Elissa Epel. Ela é coautora, com a bióloga Elizabeth Blackburn (ganhadora do Nobel de medicina em 2009), de um livro sobre a relação dos telômeros com o envelhecimento. Os telômeros são sequências repetitivas de DNA que existem nas extremidades dos cromossomos e, para quem ficou boiando, visualize um par de sapatos com cadarços: no fim de cada cadarço, há um acabamento de plástico ou metal para protegê-lo. Pois imagine o cadarço como sendo o cromossomo, que carrega a nossa informação genética, e o telômero é essa pontinha que serve de proteção! Quando se desgasta, o material genético fica desprotegido e as células não podem se renovar apropriadamente.
Elissa Epel, psicóloga especializada em estresse: “novas experiências ampliam nosso repertório e nossa resiliência para resistir”
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Blackburn deu a explicação muitas vezes, quando lançou “O segredo está nos telômeros”, mas o mais impactante foi a dupla ter descoberto uma relação direta entre o volume de estresse, violência, ou bullying a que alguém é submetido e o encurtamento e desgaste dos telômeros. Epel afirmou que as expressões estresse e ansiedade vêm sendo utilizadas como se significassem a mesma coisa, quando não são:
“Na verdade, o estresse é um aliado. As reações desencadeadas pelo estresse mobilizam cada elemento químico em nosso organismo para lidar com o perigo; portanto, está atrelado a algo específico. Já a ansiedade está associada a um quadro difuso, no qual o sentimento é de que não conseguimos administrar o que está acontecendo. Numa sociedade que nos sobrecarrega continuamente com informação, esse ‘estado de vigilância’ vem consumindo as pessoas”, explicou.
Ela diz que todos podemos melhorar o que chama de “aptidão para o estresse” (stress fitness), porque não é possível evitá-lo. Para isso, se vale da imagem do leão em perseguição a uma gazela. “Se me encontro diante de uma ameaça ou fator que me desestabiliza, como a gazela, o que posso mudar no meu comportamento para controlar a situação? A chave é usar nossos recursos internos para modular o estresse. Não é bom fugir de desafios, porque novas experiências ampliam nosso repertório e nossa resiliência para resistir”, ensina.
O problema é justamente o estresse crônico, que não dá trégua e afeta os telômeros citados no início do texto. Para a psicóloga, os jovens adultos têm enfrentado uma série de desafios que as gerações anteriores não conheceram, por causa de fatores como as mídias sociais e ameaças externas, como as mudanças climáticas. “Vejo que os mais jovens estão menos preparados para lidar com tanta instabilidade. Encaro a convivência intergeracional como um instrumento importante para mostrar às novas gerações que é possível seguir em frente”, completou.
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