Do abrigo para a república: como jovens não adotados são preparados para vida adulta

  • 25/05/2025
(Foto: Reprodução)
Repúblicas Jovens oferecem moradia gratuita e suporte para que homens e mulheres de 18 a 21 anos conquistem independência ao deixar abrigo. República Jovem em Campinas: jovem atendida pelo serviço prepara "sessão pipoca" Arquivo Pessoal Ao completar 18 anos, jovens que não foram adotados precisam deixar os abrigos onde viveram grande parte da infância e adolescência. De uma hora para a outra, muitos precisam enfrentar a maioridade sem rede de apoio e com poucos recursos para construir uma vida autônoma. O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) recomenda que o poder público ofereça repúblicas a esses jovens, mas não é uma regra. Em Campinas (SP), duas moradias fazem esse trabalho, ajudando homens e mulheres a encontrarem perspectiva de futuro e a conquistarem a independência. O g1 conversou com Newton Monteiro, que coordena o serviço na metrópole, e detalha à seguir como funciona. Além de moradia sem custo, os jovens atendidos também recebem suporte para educação, entrada no mercado de trabalho, organização financeira e formação de vínculos sociais. O que é a República Jovem e para quem é destinada Quem cuida desses jovens na república? Como a república oferece autonomia e independência Como a república ajuda na construção da autoestima e dignidade Para onde os jovens vão ao sair da república O que é a República Jovem e para quem é destinada? A República Jovem oferece moradia subsidiada a pessoas com idades entre 18 e 21 anos, de ambos os sexos, que deixaram os Serviços de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes sem serem adotados. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) determina que, ao atingir a maioridade, o jovem deixe o abrigo. Ele é considerado um "inativado", pois seu cadastro fica inativo no Sistema Nacional de Adoção (SNA). O atendimento dá prioridade a homens e mulheres que: estejam em situação de vulnerabilidade, risco pessoal e social; com vínculos familiares totalmente rompidos ou extremamente fragilizados; e sem condições de auto sustentação. O encaminhamento é feito após uma triagem dos próprios acolhimentos em que eles viviam. "Eles vêm fazer esse último acolhimento com a gente para a vida adulta. E a gente faz essa transição entre a passagem da adolescência, da juventude para a vida adulta", explica Newton. Alguém cuida desses jovens na república? O serviço é estruturado em um sistema de autogestão, como em uma república estudantil. Os jovens assistidos são responsáveis por manter a limpeza, preparar refeições e cuidar de outros afazeres domésticos. Nesse sentido, é uma casa como qualquer outra. Exatamente por isso, para ser encaminhado para a república, é necessário que eles possam cuidar de si próprios. Isto é, pessoas com deficiência ou que dependam de cuidadores por qualquer motivo, por exemplo, não são recebidas nesse tipo de república. Nesses casos, o destino é definido pelo poder público. Autonomia e independência Segundo Newton, o objetivo da república é oferecer mais que um teto para morar. O serviço oferece apoio multiprofissional para promover autonomia por meio de: fortalecimento do vínculo com a comunidade; apoio à inserção ou qualificação no mundo do trabalho; auxílio na construção de projetos de vida; e do atendimento a outras necessidades essenciais. "A gente tem um programa que é institucional, que a gente chama de Trabalho e Renda. A gente oferece cursos com bolsas gratuitas, que tem parceria com o Senai, Sesi e outras escolas profissionalizantes", detalha o coordenador de Campinas. "Na maioria dos programa a gente consegue uma remuneração no final do curso para que eles possam dar seguimento. Se eles quiserem fazer um curso, por exemplo, de cabeleireiro, e construir um salão, eles têm recursos que vai pra poupança". Os cursos podem ainda terminar no encaminhamento para empresas vinculadas. No espaço há também o suporte de assistente social, psicólogo e educadores, que oferecem um trabalho multidisciplinar. Mesmo que consigam um emprego durante a estadia na república, os jovens não precisam pagar nada, como explica Newton. "Aqui é custo gratuito do aluguel, comida... A gente custeia todas as questões para que eles moram e vivem aqui sem nenhum custo". "No momento que eles começam a trabalhar, a gente faz uma educação financeira onde eles têm que guardar no mínimo 40% do que eles ganham numa poupança com o nome deles para que eles possam sair daqui com um certo valor". Construção de autoestima e dignidade Durante a produção dessa reportagem, o g1 questionou se algum dos assistidos aceitaria dar entrevista e contar sua história. No entanto, o coordenador explicou que é comum que os moradores da república evitem falar de suas vivências. Não por má vontade ou, necessariamente, trauma. Newton diz que a estadia no serviço é um processo de reconstrução da própria história. É comum que os jovens prefiram não comentar o que os levou até ali. Um exemplo disso está na escolha por chamar o serviço de república. Eles querem ser vistos como adultos donos de si mesmos. "Como aqui é outro lugar, não é abrigo, eles vivem livres, enfim, saem, entram a hora que querem, dormem na casa de amigo. Eles estão em um outro lugar, inclusive de entendimento pessoal", comenta. "Eles falam para os amigos: 'eu moro numa república de jovens. Cai nesse lugar da informalidade subjetiva de pensar num curso, que eles estão num curso, que eles estão na faculdade, enfim. A gente tenta manter essa brincadeira com o nome". Para onde os jovens vão ao deixar a república? A república tenta garantir que o jovem não fique desassistido quando completar 21 anos e precisar deixá-la. Por isso, o trabalho é focado em garantir educação, empregabilidade e independências. Newton afirma, inclusive, que muitos deixam o serviço antes mesmo de atingir essa idade. "Os próprios meninos, quando começam a trabalhar e tal, eles querem alugar a casa deles, ir para a vida". Serviço importante, mas que recebe pouca atenção De 2019 a 2025, 138 moradores de Campinas se tornaram "inativados" ao completarem 18 anos sem serem adotados. As repúblicas da cidade contam com 12 vagas para atender esse público, dividas entre homens e mulheres. As casas têm uma rotatividade que varia de um a dois anos e, segundo Newton, não há demanda represada. A pós-doutora em serviço social pela PUC-SP e docente da PUC-Campinas, Fabiana Aparecida de Carvalho, ressalta a importância do trabalho, mas lembra que, num contexto nacional, as vagas oferecidas pelos estados e municípios são insuficientes e o programa deveria ser olhado com mais atenção. "Não são todos que conseguem. Existem adolescentes, por exemplo, que voltam pra família de origem, que voltam pra uma avó numa outra cidade. Tem adolescentes que vão pra circularidade de rua. Alguns conseguem se organizar e morar juntos, alguns conseguem se relacionar e tem relacionamentos entre eles e passam a ser casais e depois têm filhos e vão se organizando", comenta. "Essa é uma modalidade que todos os municípios precisam cuidar muito bem, porque nem são todos os municípios que têm. Aqueles municípios que têm, também não têm um número suficiente, as vezes. O jovem acaba recebendo uma grande incógnita na hora que fizer 18 anos naquela instituição que era pra protegê-lo". Adoção, apadrinhamento e acolhimento familiar: entenda as diferenças VÍDEOS: Tudo sobre Campinas e Região Veja mais notícias sobre a região na página do g1 Campinas.

FONTE: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2025/05/25/do-abrigo-para-a-republica-como-jovens-nao-adotados-sao-preparados-para-vida-adulta.ghtml


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