Seis anos depois, família ainda pede justiça por jovem linchado por policiais em Sorocaba: 'Foi muito cruel', diz irmão

  • 23/10/2025
(Foto: Reprodução)
Lucas Lopes morreu ao ser espancado no dia 1° de janeiro de 2019 Reprodução/Facebook O réveillon é sempre visto pelas pessoas ao redor do mundo como uma forma de estipular metas, renovar ciclos e, também, reforçar os laços entre pessoas queridas. No entanto, uma data que possui um significado tão profundo para tantos se tornou motivo de tristeza - e luta por justiça - para uma família de Sorocaba (SP). Há seis anos, Lucas Lopes havia saído de casa para comemorar o Ano Novo com amigos no bairro Ana Paula Eleutério, conhecido como Habiteto, na zona norte da cidade, mas não voltou mais. Segundo a família, ele foi espancado até a morte por policiais militares que estavam na região e, nesta quinta-feira (22), será realizado o júri popular do acusado do crime. 📲 Participe do canal do g1 Sorocaba e Jundiaí no WhatsApp Veja os vídeos que estão em alta no g1 Matheus Lopes, irmão de Lucas, relatou ao g1 que três policiais estavam em patrulhamento pelo entorno do bairro para uma operação contra os bailes funk, que acontecem nas ruas. O jovem de 23 anos estava correndo pela rua, quando foi abordado pelos agentes. "Ele estava curtindo com os amigos e correndo na rua, mas havia um policial que estava atrás de toda a 'molecada' que estava na rua, como uma forma de repressão e não ficar na rua. Eles correram em direção ao meu irmão, que foi direto para a casa de um vizinho nosso, mas foi alcançado. A partir disso, ele começou a apanhar muito", lembra. Segundo o familiar, Lucas chegou a ser defendido por moradores da região e recebeu apoio, mas não foi o suficiente. Aos moradores, o policial teria afirmado que o jovem roubou um carro, mas, alterou a versão logo em seguida, dizendo que ele teria atirado uma pedra em direção à viatura. "O policial disse que ele tinha roubado um carro, mas os vizinhos disseram que conheciam o Lucas e sabiam que ele era um menino trabalhador. Logo depois disso, ele alterou a história e disse que ele teria atirado uma pedra contra a viatura. Quando eu e minha mãe chegamos para socorrê-lo, ele já estava desmaiado", conta. Matheus ainda alega que, mesmo chegando ao local para levar o irmão ao hospital, ele e a mãe acabaram hostilizados pelo policial, que teria apontado um revólver em direção a eles. Ele detalha que, durante a abordagem, sentiu muito medo de ser agredido pelo agente. "Nós dois tentamos chegar perto, mas o policial sacou a arma e disse que atiraria se nos aproximássemos. Minha mãe, no instinto de ajudar o filho, até bateu no revólver de um dos agentes, avançou e começou a debater com ele. Em resposta, o policial disse que 'se não quisesse que nada acontecesse com o filho, que deixasse ele dentro de casa'", aponta. Lucas tinha 23 anos quando morreu Reprodução/Facebook Mesmo no chão, Lucas tentou rebater as afirmações dos policiais antes de ficar inconsciente. Ele foi socorrido e encaminhado ao hospital pela própria família, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. "Durante a discussão, o Lucas tentou mexer o dedo com o intuito de dizer que não havia feito aquilo e, mesmo no estado que ele estava, os policiais se recusaram a socorrê-lo. Ele ficou cerca de meia hora desacordado, quando deram a ordem para 'tirá-lo daqui'", diz. "Eu coloquei o meu irmão no carro e dirigi com uma mão no volante e outra tentando fazer massagem cardíaca nele, mas ele não conseguia respirar e cuspia muito. No PA, ele chegou a perder o pulso, mas foi reanimado, entubado e levado para a UTI. Uma hora depois, ele morreu", completa. Ao g1, uma amiga da família afirmou à época do crime que Lucas estava sob efeito de bebidas alcoólicas. Extrovertido e feliz com a vida Matheus descreve o irmão como uma pessoa extrovertida, cheia de amigos e "de bem com a vida". Pouco antes de morrer, ele costumava comprar roupas na capital paulista para vender no interior. "O Lucas era uma pessoa muito conhecida e amada por muita gente. Quando ele morreu, nós fizemos uma passeata como forma de protesto e, até então, eu nunca havia visto tanta gente reunida na minha vida. Meu irmão era uma pessoa boa e trabalhadora, que costumava ir a São Paulo comprar roupas com o Israel, nosso irmão mais velho, e passava nos lugares daqui da cidade vendendo", explica. A relação entre ele e o irmão pode ser descrita como inseparável. Matheus valoriza que, mesmo durante as dificuldades que passaram juntos, eles foram instruídos pela mãe a seguirem um caminho muito distante do crime. Lucas e Matheus tinham uma boa relação entre irmãos Reprodução/Facebook "Existem muitos irmãos que ficam sem se falar, e isso jamais aconteceria dentro da nossa família. Nós passamos por muitas coisas juntos e tivemos uma mãe muito batalhadora. Nunca chegamos a passar fome, mas nós sempre dávamos um jeito para tudo. Nós poderíamos escolher um caminho mais fácil, mas nossa mãe ensinou a sermos pessoas de bem. É uma indignação muito grande", pontua. O cabeleireiro acredita que, se a abordagem dos policiais fossem de uma forma diferente, a história teria um desfecho menos dolorido para todos os envolvidos. "Eu sou uma pessoa suspeita para falar, mas ele era uma pessoa muito feliz, que gostava de dançar, de estar perto dos amigos e de fazer todos darem risada. Se os policiais não tivessem abordado ele dessa forma, isso não teria acontecido. Eles não quiseram nem saber quem era o Lucas ou o que ele fazia da vida. Ele era só alegria", lamenta. Falecimento da mãe e dificuldades emocionais Matheus, Lucas, Israel e Cecília (em ordem) Arquivo pessoal A mãe de Lucas, Matheus e Israel era a pessoa que estava à frente da luta por justiça desde a data da morte do jovem. No entanto, Cecília acabou falecendo há quatro meses, sem receber um desfecho envolvendo o caso do filho. "Minha mãe dizia a todo custo que não ia descansar enquanto não visse a justiça sendo feita e que ia devolver com amor tudo o que entregaram a ela com raiva. Foi uma frase que me marcou bastante, porque foi muito cruel tudo o que fizeram com o Lucas", descreve. Segundo Matheus, a mãe passou a ajudar mais as pessoas necessitadas e colaborar em ações filantrópicas depois que perdeu o filho. Israel, por sua vez, perdeu a filha em decorrência de leucemia cerca de dois anos e meio após a morte de Lucas. "Ela era uma pessoa muito humana e que sempre ajudou muito o próximo, mas passou a viver mais isso depois que o Lucas se foi. Ela transformou a dor em vitória. Abriu uma ONG para ajudar as pessoas por meio da dor do luto. Dois anos e meio depois, o Israel perdeu a filha. E eu perdi meu irmão. Mesmo assim, nós estamos de pé e enfrentando essa luta", conta. Próximo à data do júri popular do policial acusado de matar Lucas, a Câmara Municipal de Sorocaba organizou uma audiência coletiva na última sexta-feira (18). No dia seguinte, os familiares elaboraram um culto ecumênico em homenagem ao jovem no bairro onde moram. MP denunciou o caso O promotor do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) responsável pelo caso, Antônio Farto Neto, explica que o julgamento acontecerá mesmo se o réu não comparecer ao local. Atualmente, o policial militar acusado está aposentado. "O MP denunciou o caso como agressão, que acabou gerando a morte da vítima. Hoje em dia, o policial está aposentado e, se ele não for ao júri, as tramitações acontecerão normalmente. Ele é obrigado a comparecer em todos os autos do processo e, independente disso, o policial corre o risco de ser condenado", explica. De acordo com Farto Neto, o caso foi denunciado pelo MP-SP por ter provas que garantem a segurança de uma condenação. Ele alega não ter contato frequente com a família, por mais que esteja à disposição para diálogo. "O Ministério Público não tem a obrigação de acusar ninguém, então, só trabalhamos com casos onde a prova realmente sustenta uma acusação. Nesse caso, a família tem, inclusive, um assistente de acusação. Nós trabalhamos diversos anos em apenas um caso, então, estamos vendo e revendo constantemente todas as provas de acusação e de defesa", compartilha. "O único caso e local do país onde a própria sociedade senta, avalia a acusação, a defesa e julga é o júri. A transparência dele é importantíssima para todos nós. Se for um acidente já é grave, erro médico também é dolorido, mas assassinato é absurdo", finaliza. O g1 entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) para se posicionar sobre o caso, no entanto, não obteve retorno até a publicação desta reportagem. *Colaborou sob supervisão de Eric Mantuan Veja mais notícias da região no g1 Sorocaba e Jundiaí VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM

FONTE: https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2025/10/23/seis-anos-depois-familia-ainda-pede-justica-por-jovem-linchado-por-policiais-em-sorocaba-foi-muito-cruel-diz-irmao.ghtml


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